Tecnologia e Inteligência Artificial na Educação: um conflito entre gerações
- Luiz Alberto de Souza
- 19 de jul.
- 4 min de leitura
Sou professor, na casa dos 40 anos, e atuo nas redes estadual de São Paulo e municipal de Santo André-SP. Me considero um entusiasta da tecnologia, sempre buscando inovações para tornar minhas aulas mais dinâmicas e atrativas. E, convenhamos, hoje em dia é impossível ignorar a presença massiva de computadores, tablets, celulares, redes sociais e outras novidades que surgem a todo instante, como a chegada avassaladora das Inteligências Artificiais (IAs).
No ambiente escolar, a discussão sobre o uso dessas ferramentas pelos estudantes é constante. Muitos professores criticam a forma como os alunos interagem com a tecnologia, focados em memes, vídeos curtos sem valor educacional, dancinhas e trends. É fácil ver isso como procrastinação, tanto dentro quanto fora da sala de aula. Mas, pare e pense: você já observou o comportamento das pessoas em restaurantes, bancos, praças, andando na rua, no mercado, na praia? Pois é, isso vale para mim e para você também!
Então, a questão não é só a imaturidade dos adolescentes. Celulares, tecnologias e a Inteligência Artificial já fazem parte do nosso dia a dia. Precisamos aprender a lidar com elas, ou melhor, a fazer um uso mais consciente delas. E aqui surge um desafio: para usar bem uma ferramenta, precisamos dominá-la minimamente.
Foi por isso que comecei falando da minha idade e do meu entusiasmo com a tecnologia. Mesmo com certa facilidade para usar tantos recursos inovadores, confesso que não consigo acompanhar todas as tendências que surgem diariamente e que estão na palma da mão dos meus alunos. Como um professor, acostumado com livros, lousa e seu vasto repertório de saber, de repente precisa aprender técnicas e habilidades de um influenciador digital? Parece loucura, não é?
Além disso, há uma pressão constante para integrar a educação à era digital. As escolas receberam equipamentos e infraestrutura, como acesso à internet, mas, como já foi discutido neste mesmo jornal no artigo “Nem tudo são flores quando se usa tecnologias no ensino de alunos nativos digitais, na rede estadual de educação de São Paulo” (publicado em 14/06/2025), os recursos ainda são insuficientes. E mesmo assim, não garantem mudanças significativas, nem para os adolescentes nativos digitais, que dirá para nós, professores.
E faço uma observação importante: mesmo professores mais jovens e recém-formados não significa necessariamente que eles tenham domínio tecnológico ou façam aulas inovadoras e carregadas de efeitos tecnológicos. Assim, chegamos a uma conclusão crucial: a formação de professores também precisa de reformulações.
A tecnologia transformou radicalmente a educação moderna, oferecendo um aprendizado mais dinâmico e interativo. Ela democratiza o acesso ao conhecimento, permitindo que estudantes em qualquer lugar acessem uma infinidade de recursos. Além disso, a tecnologia é fundamental para o desenvolvimento de habilidades cruciais para o século XXI, como o pensamento crítico, a colaboração e a criatividade, preparando os alunos para os desafios do futuro.
Contudo, essa revolução tecnológica na educação não está isenta de desafios. A desigualdade no acesso a dispositivos e internet ainda é uma barreira significativa, ampliando a lacuna entre alunos de diferentes realidades socioeconômicas. Há também a necessidade de formação contínua para os educadores, garantindo que eles possam integrar eficazmente as novas ferramentas e metodologias. Somando-se a isso, é preciso se atentar para evitar a superficialidade no aprendizado, assegurando que a tecnologia complemente métodos pedagógicos sólidos, em vez de substituí-los.
Tem-se discutido em diferentes mídias, nas instituições de ensino e acompanhado de perto pela UNESCO, o potencial da IA para personalizar o aprendizado de cada aluno, adaptando o conteúdo e o ritmo às suas necessidades individuais. Além disso, a tecnologia pode ser uma ferramenta poderosa para combater a evasão escolar e aprimorar a gestão das instituições de ensino, tornando-as mais eficientes e responsivas.
No Brasil, a Inteligência Artificial (IA) já está começando a ser integrada ao sistema educacional, o que representa uma grande oportunidade para otimizar o ensino. Destaco aqui o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) 2024-2028, lançado durante a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação.
Contudo, a implementação da IA na educação brasileira exige cautela e planejamento. É fundamental que seu uso seja pautado pela responsabilidade, garantindo que a tecnologia sirva como um complemento valioso, e não um substituto para a interação humana. A ética no uso da IA é um pilar essencial para evitar vieses e assegurar que a tecnologia beneficie a todos os estudantes de forma justa e equitativa.
Utilizar tecnologias digitais ou metodologias ativas não é garantia de sucesso na aprendizagem, e o fator tédio é uma questão a ser levantada. Essa geração demonstra dificuldade de concentração e não costuma manter o foco prolongado em uma mesma atividade, dispersando rapidamente quando o interesse pela novidade passa.
Quando falamos em conflito de gerações nas escolas, a tecnologia é o ponto mais evidente, mas não o único. É fundamental entender que a geração mudou, os adolescentes mudaram, a sociedade evoluiu drasticamente em poucos anos, e, consequentemente, a forma de aprender e os objetivos da aprendizagem também se transformaram. Antigamente, a máxima era: “estude para ter um diploma e ser alguém na vida”. Não vou discutir se isso estava certo ou errado, mas era o que a maioria das famílias repetia nos anos 90.
As gerações mais recentes, como a Geração Z e a Geração Alpha, nasceram imersas no mundo digital, o que moldou sua forma de aprender e interagir. Eles são práticos, imediatistas e têm pouca concentração, buscando recompensas imediatas.
Como vimos até o momento, o trabalho será gigantesco e não podemos desconsiderar toda uma educação construída até o momento. As teorias didáticas e as metodologias de ensino fazem parte de uma práxis construída ao longo de décadas e que tem sido eficaz. Precisamos buscar um equilíbrio entre o que já está estabelecido e deu certo, e uma adequação às mudanças propostas pela nova geração, que são desafiadoras em diferentes cenários e perspectivas.
O que não podemos perder de vista são questões chave como: Qual o valor que a sociedade está construindo atualmente? Quais as motivações dos adolescentes em relação aos estudos hoje em dia? Que sociedade estamos construindo para as próximas décadas? Como os professores podem contribuir para a formação cidadã que se espera para o mundo digital? Talvez, nem mesmo a Inteligência Artificial tenha essas respostas. Essa é uma preocupação que não deveria ser apenas dos professores ou da comunidade escolar, mas deveria ecoar por todos os segmentos da nossa sociedade.
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