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Brasil presente

Começa a ficar claro que a cultura de massa, no Brasil, não é apenas entretenimento — é resistência. Quando milhões ocupam a praia mais icônica do país para assistir a um show gratuito de uma estrela pop americana, algo se move. Algo muda. Algo se afirma. Em maio, quatro acontecimentos distintos revelaram como o Brasil contemporâneo negocia dentidade, classe e presença por meio da cultura. Em comum: o palco, o público e o gesto simbólico de existir com beleza em tempos tensos.


O BRASIL NA PRAIA: ELA VEIO


Mais de dois milhões de pessoas se reuniram para ver LADY GAGA se apresentar gratuitamente na Praia de Copacabana, como parte do evento “Todo Mundo no Rio” e divulgação do novo álbum da artista, MAYHEM. O espetáculo, que teve participação especial de PABLLO VITTAR e TROPKILLAZ, foi transmitido ao vivo e reuniu uma multidão plural: corpos dissidentes, famílias, adolescentes, senhoras com guarda-sol, drag queens com salto na areia. Um ritual coletivo e político. A performance foi impecável, mas o que marcou foi o gesto. Como escreveu o jornalista DODÔ AZEVEDO (@dodomundi), esse tipo de evento revela uma nova forma de militância popular: gratuita, festiva, popular e profundamente simbólica. A arte ocupa o espaço público e inverte a lógica do privilégio. Por algumas horas, Copacabana virou um terreiro de libertação. Quem historicamente foi silenciado agora cantava junto, no horário nobre, para o mundo inteiro ver. A repercussão internacional foi imediata.


A imprensa internacional descreveu o show como “algo religioso”, destacando a profunda conexão emocional entre Gaga e o público brasileiro. Um marco na história global do audiovisual; esse show importa porque mostra o Brasil como um principal território de encontros possíveis—um palco global, mas completamente único por seu calor e vibração da nossa nação.


“Esta noite, estamos fazendo história.” Disse Gaga durante o show. “Mas ninguém faz história sozinho. Sem todos vocês, o incrível povo do Brasil, eu não teria este momento. Obrigada por fazer história comigo. O povo do Brasil é a razão pela qual eu consigo brilhar hoje.” Que sirva de lembrete: o Brasil é uma potência cultural muito maior do que o mundo—e às vezes nós mesmos—conseguimos imaginar. “MAYHEM NA PRAIA” mostrou que o Brasil não apenas participa da cultura global, ele transforma.


MASTERCHEF 2.0


O MASTERCHEF entendeu que, para continuar relevante, precisava se reinventar. A edição especial MASTERCHEF CREATORS, lançada em 6 de maio exclusivamente no YouTube, é uma resposta direta a essa necessidade. Comandada por EDUARDO CAMARGO e FILIPE OLIVEIRA, do canal DIVA DEPRESSÃO, a temporada reuniu seis influenciadores digitais especializados em gastronomia para disputar um prêmio de R$ 200 mil.


A escolha de Diva Depressão como apresentadores não foi apenas estratégica, mas simbólica. Conhecidos por seu humor ácido e conexão com o público jovem, eles trouxeram uma nova energia ao formato, aproximando o programa de uma audiência que consome conteúdo majoritariamente online. Como afirmou Eduardo Camargo: “Estar à frente de uma edição que junta gastronomia e conteúdo digital é um desafio e, ao mesmo tempo, uma realização”.


Essa edição importa porque representa uma ponte entre a tradição televisiva e as novas linguagens digitais. Ao migrar para o YouTube e incorporar influenciadores como participantes e apresentadores, o MasterChef Brasil não apenas busca atrair uma nova geração de espectadores, mas também reconhece a influência crescente dos criadores de conteúdo na formação de opiniões e tendências. É um movimento que sinaliza como os formatos clássicos podem se adaptar e prosperar em um ecossistema digital em constante evolução.


CANNES É DO BRASIL!


Na Riviera Francesa, o cinema brasileiro viveu um de seus momentos mais altos das últimas décadas. Na 78ª edição do FESTIVAL DE CANNES (13 a 24 de maio de 2025), o filme O AGENTE SECRETO, dirigido por KLEBER MENDONÇA FILHO, foi ovacionado por mais de dez minutos após sua estreia. Ambientado em 1977, durante os anos da ditadura militar, o longa levou à Croisette uma trama política intensa, com estilo e precisão. O frevo encontrou o tapete vermelho e no encerramento do festival, os prêmios chegaram.


WAGNER MOURA foi reconhecido como MELHOR ATOR, tornando-se o primeiro brasileiro a vencer a categoria em Cannes. Já Kleber Mendonça Filho recebeu o prêmio de MELHOR DIRETOR, repetindo um feito que só havia sido conquistado por GLAUBER ROCHA, em 1969. O filme ainda venceu o prêmio da crítica internacional (FIPRESCI), consolidando o impacto de sua estreia como um marco para o audiovisual nacional.


Essas conquistas não são apenas troféus. Elas dizem muito sobre o momento atual do cinema brasileiro: uma fase madura, consciente e tecnicamente refinada, que sabe ocupar espaços sem diluir suas raízes. O AGENTE SECRETO foi viabilizado com recursos do Fundo Setorial do Audiovisual (vinculado à Ancine e com apoio do Ministério da Cultura), mostrando como políticas públicas de fomento são capazes de gerar obras com repercussão global. E num mundo cada vez mais saturado por fórmulas, ver um filme brasileiro político, denso e autoral ser aplaudido em Cannes é mais do que uma vitória — é um recado. O Brasil está produzindo histórias que o mundo precisa ouvir.


CINEMA NACIONAL: SANGUE LATINO


Enquanto os holofotes do agora se voltam às figuras digitais, o cinema nacional decidiu olhar para trás, e iluminar o corpo mais revolucionário da música brasileira: NEY MATOGROSSO. Estrelado por JESUÍTA BARBOSA e dirigido por ESMIR FILHO, o filme HOMEM COM H estreou nos cinemas no dia 1º de maio e já foi chamado de “mantra visual queer”. A cinebiografia percorre os anos do grupo SECOS & MOLHADOS, passa pelo enfrentamento à ditadura e mergulha nos conflitos íntimos de um artista que nunca se curvou. NEY canta, protesta, brilha e sobrevive. E o filme não o domestica — ao contrário, acentua sua radicalidade. A atuação de Jesuíta Barbosa foi amplamente elogiada pela crítica, destacando-se por capturar a essência e a energia de Ney Matogrosso no palco.


Num momento em que corpos LGBTQIA+ ainda são alvos, recontar a história de Ney é um gesto de proteção e memória. Mais do que homenagem, é estratégia: lembrar que nossa liberdade de hoje tem nome. Importa porque afirma que o passado ainda está nos ensinando a resistir, com voz aguda e olhos pintados. Viver é um ato político, e é algo muito presente nas experiências diárias do brasileiro. Não é fácil, mas não podemos deixar o sistema limitar a multiplicidade da identidade do nosso povo. Que sejamos sempre ousados, e com coragem para trilhar caminhos novos. Passado, presente e futuro: o Brasil é uma força política; transgressor em sua beleza e coragem única. Como disse Matogrosso, “Eu sou assim e morrerei sendo. De uma maneira geral, acho que as pessoas não se expõem verdadeiramente e esse é o problema”.


BRASIL… PRESENTE


No fim das contas, o que se vê é uma cultura brasileira se desdobrando em múltiplas vozes, todas pulsando ao mesmo tempo. Através da música, o Brasil se mostrou presente no palco global de hoje. E se a música transforma a praia em espetáculo e as telas digitais criam barulho em tempo real, o cinema nacional vem cumprindo uma função distinta, mas igualmente essencial: registrar, com potência global, a história do país. HOMEM COM H mostra como o cinema nacional tem se tornado uma forma de falar alto o que, por muito tempo, foi silenciado. E nesse momento de tanto som e fúria, é bom enfatizar: lembrar também é um ato de presença.






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