BULLYING E CYBERBULLYING

No início deste ano, foi amplamente divulgado pela mídia um caso de bullying/ cyberbullying ocorrido no Colégio Santa Cruz, em São Paulo, que levou à suspensão de 34 estudantes e expulsão de outros 4 do 3. Ano do Ensino Médio (EM). As ações do cyberbullying ocorriam em um grupo de WhatsApp, com 200 pessoas, administrado por estudantes do 3. Ano do EM que intimidavam e faziam ameaças aos estudantes do 1. Ano do EM. Durante a apuração dos fatos, uma das hipóteses levantadas para o ocorrido foi a influência do movimento Red Pill, que exalta a masculinidade e o ódio às minorias e às mulheres que rejeitam ser dominadas pelos homens.

Antes de continuar o tema principal, preciso fazer um parêntesis sobre o Red Pill: ficou mais conhecido no Brasil quando o coach Thiago Schutz, um grande influenciador nacional do movimento, ameaçou a humorista Lívia La Gatto, em 2023: “Você tem 24 horas para apagar seu conteúdo sobre mim. Depois disso, é processo ou bala”. Recentemente, o movimento Red Pill tem sido bastante mencionado nas mídias devido a série britânica Adolescência, história fictícia, em que um adolescente de 13 anos assassina uma colega, possivelmente por influência desse movimento e por vingança do cyberbullying que ela causou nele. Tanto o movimento Red Pill quanto o bullying e o cyberbullying podem levar à violência emocional, física e sexual, daí a necessidade de pais e responsáveis de adolescentes supervisionarem o uso de redes sociais/internet e promoverem uma rotina de diálogo e escuta que colabore com a segurança e estabilidade emocional dos filhos.

Voltando ao tema principal, em poucas palavras, bullying se refere a atitudes repetidas de intimidação e violência emocional ou física, causando sofrimento, exclusão da vítima e diminuição na aprendizagem, pois geralmente ocorre nas escolas. Já o cyberbullying é o que acontece em ambiente virtual – exemplo do Colégio Santa Cruz citado no início, por meio de redes sociais, aplicativos de mensagens e jogos online.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) estima que um terço das crianças e adolescentes do mundo são vítimas de bullying e cyberbullying (que está em ascensão). Isso representa uma violação aos direitos à educação, saúde e bem-estar e para dar visibilidade à questão, existe o dia internacional contra a violência e o bullying na escola, incluindo o cyberbullying, que é a primeira quinta-feira do mês de novembro. Em 2024, o tema da campanha foi: “Proteger, educar, capacitar: um apelo dos alunos por escolas seguras e inclusivas”.

Na direção de ações e projetos internacionais de combate ao bullying, podem ser citados:

• Nova Zelândia: campanha sobre segurança digital apresenta orientações para pais, professores e adolescentes – keepitrealonline. govt.nz

• Espanha: aprovou em março lei que proíbe redes sociais para menores de 16 anos e que obriga fabricantes de dispositivos eletrônicos incluírem ferramentas de controle parental.

• Finlândia: programa ou método KIVA (“contra o bullying” em finlandês) foi criado na Universidade de Turku e eliminou o bullying em 80% das escolas da Finlândia e nos outros 20% diminuiu consideravelmente. O sucesso foi tão grande, que é método KIVA é utilizado em 20 países da Europa e na América Latina é adotado por Argentina, Peru, Chile e Colômbia. O destaque do método KIVA é envolver as testemunhas no processo de apuração do bullying, além do agressor e da vítima. Isso acaba enfraquecendo o poder do agressor. Como prevenção e conscientização, o KIVA realiza duas reuniões mensais com pais, professores e estudantes.

  
  

No Brasil, a Lei 14.811/2024, de 12/01/2024, inclui o bullying e cyberbullying como crimes no Código Penal e a Lei Federal 15.100/2025 restringe o uso de celulares pelos alunos nas escolas. De acordo com o IBGE, em torno de 40% dos alunos brasileiros já sofreram algum tipo de bullying, tendo o seu rendimento escolar prejudicado. Nesse contexto, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (SECOM/PR), em cooperação com a UNESCO, lançou recentemente a publicação: Crianças, adolescentes e telas – guia sobre uso de dispositivos digitais, e um dos temas abordados é o cyberbullying. Disponível em: https://www.gov.br/secom/pt-br/assuntos/uso-de-telas-por-criancas-e-adolescentes/guia

O guia apresenta orientações para as famílias e para as escolas com o objetivo de promover a segurança digital de crianças e adolescentes e de prevenir o cyberbullying. Por exemplo, para as famílias é recomendado não disponibilizar celular antes dos 12 anos e depois dessa idade, o uso precisa ser limitado a algumas horas por dia e sob a supervisão adulta. Nas escolas, as crianças e os adolescentes devem ser envolvidos nas decisões que os afetam, para que se sintam corresponsáveis pelas ações. O bem estar dos professores e dos alunos precisa ser promovido e por isso o bullying precisa ser prevenido, abrindo espaço para a escuta ativa. O diálogo entre escola e famílias é fundamental para a construção de uma cultura de paz, sem violência, sem bullying. Às vezes, o resgate de histórias infantis clássicas pode propiciar boas discussões e promover a conscientização de temas como diversidade e racismo. Por exemplo, a história do patinho feio ou da cigarra e da formiga. Com alunos mais velhos, é possível discutir uma série – 13 Reasons Why ou um jogo – Baleia Azul, levando à prevenção de bullying e suicídio.

Para além dessas orientações mais gerais, cada rede educacional e cada escola particular tem autonomia para desenvolver projetos de prevenção ao bullying, pois isso não é brincadeira de criança, é crime e pode ser evitado. Nossos olhos precisam estar bem abertos e nossas ações precisam corresponder ao discurso democrático e inclusivo do século XXI.

DISQUE 100 (Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos) para denunciar crime contra crianças e adolescentes. Bullying e Cyberbullying é crime. Se precisa de ajuda, disque 188 ou cvv.org.br Vamos juntos ao alcance do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) n. 16 – sociedade pacífica e inclusiva!

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