A maioria das crianças e adolescentes estão voltando às aulas na última semana de janeiro ou na primeira semana de fevereiro e o que isso traz à tona? Preço de material escolar, uniforme, novos professores, turmas diferentes, novos colegas e adaptação a um novo ano escolar. Dentre estes, o uso de uniforme persiste como um dos principais embates entre gestão escolar e estudantes/responsáveis. Geralmente, se entende que se o uniforme é obrigatório, estudante não entra sem ele na escola, mas alguns, principalmente do Ensino Médio, insistem em não o usar, são impedidos de entrar na escola ou recebem advertência e seus responsáveis entram em debate com a gestão escolar. Outra situação é quando o uniforme é fornecido por uma rede de educação, mas chega às mãos das famílias apenas no meio do ano escolar.
Eu usava uniforme quando era criança/adolescente e estudava em escola pública em Rio Claro: saia plissada azul; camisa branca com o logo da escola no bolso; sapato preto e meia branca até o joelho. Minha mãe costurava a saia e a camisa. Em dias de aula de Educação Física, no contraturno, o uniforme era camiseta branca, bermuda azul de brim, tênis Conga e meia até o joelho. Era década de 1970. Todos usavam uniforme e ninguém questionava. Aliás, não se questionava nada. Indo para a geração dos meus filhos, nascidos na década de 1990: eles tinham uma relação de ódio com o uniforme, perguntando quase todo dia – “por que a gente precisa usar uniforme?” E isso se intensificou depois que tiveram a oportunidade de estudar fora do Brasil, sem a necessidade de uniforme. A crítica de meus filhos em relação ao uniforme era quanto à sua origem – religiosa e militar: instituições inglesas religiosas usavam uniformes para identificar crianças de orfanatos e de escolas para famílias pobres, ou seja, discriminação social e econômica; o modelo militar inspirou escolas que adotavam disciplina rígida, valorizando a hierarquia e a conformidade. Mas depois, o uniforme passou a ser adotado por escolas públicas como sinal de igualdade entre os estudantes, como se uma roupa fosse capaz de garantir isso. Nos séculos XX e XXI, o maior apelo para o uso do uniforme tem sido a segurança, mas será que se nossas cidades fossem seguras seria necessário o uso de uniforme? Então, por uma falha de política pública de governo na área de segurança, justifica-se a adoção de uniformes nas escolas. A questão não é ser a favor ou contra, mas entender o contexto e se posicionar na busca de soluções para o real problema, pois usar uniforme tem sido apenas um disfarce de solução para a segurança.
Em 2025, temos dois “novos” temas polêmicos na volta das aulas: uso de Inteligência Artificial (IA) e proibição de celulares nas escolas. O uso de IA por estudantes na elaboração de trabalhos acadêmicos tem sido uma preocupação há anos. Foram criadas ferramentas que identificam plágio e estratégias didáticas que dificultam o uso de IA. Atualmente, tem havido uma maior busca por parte de professores de como eles podem utilizar a IA em suas práticas docentes, por exemplo, no planejamento de aulas. Isso exige desprendimento, resiliência e muito tempo – um ingrediente raro na rotina de muitos professores.
Mas chamo atenção para um outro uso de IA por crianças e adolescentes – busca de conselho, apoio emocional. Muitas vezes, nós, professores, ouvimos os estudantes, que nos trazem dúvidas, inquietações e solicitam opiniões, devido a falta de disponibilidade das famílias e às vezes, falta de diálogo em casa. Mas, parece-me que a facilidade de ter um conselheiro disponível a qualquer hora e que não faz julgamentos, tem levado mais adolescentes a escrever no chatbot: “Só preciso de alguém para conversar, posso falar com você?” ou “Foi meu primeiro dia de aula na escola nova e ninguém conversou comigo. O que eu faço?” Essa questão se integra à Saúde Mental, que não é nosso foco, mas fica o alerta de que precisamos nos juntar às gerações mais novas e aprendermos juntos as possibilidades de uso educacional de IA, que nós ainda não enxergamos.
Quanto à proibição do uso de celulares nas escolas, já vem ocorrendo em escolas particulares de educação básica e com sucesso. Em 2024, mediei um debate a respeito e professores que vivenciaram a proibição, comprovaram que a atenção nas aulas e o rendimento dos estudantes aumentaram. Ao mesmo tempo, disseram que tiveram autorização para utilizar o celular em atividades com justificativa pedagógica, por exemplo, com uso de algum aplicativo da área. Nas escolas em que o uso do celular foi proibido, havia uma organização para o armazenamento seguro dos celulares. Agora, em 2025, com a lei que proíbe o uso, mas permite que os celulares sejam levados para a escola, as escolas públicas precisarão providenciar o armazenamento em local seguro dos celulares. Imagino que esse será mais um grande desafio de infraestrutura física para a gestão das escolas públicas e pode ser até que a falta de local adequado para armazenamento seguro atrase a proibição do uso de celulares em algumas escolas. A proibição não se limita a celulares, mas inclui dispositivos eletrônicos móveis, como tablets e smartwatch e não se restringe à sala de aula, mas aos intervalos, também. Com isso, alguns estudantes, principalmente do Ensino Médio, estão revoltados com a lei e já planejam como burlá-la – esconder o celular na roupa ou na lancheira, por exemplo. Também, questionam a falta de ação do governo federal com relação à merenda e ao transporte escolares, que consideram temas mais emergentes que o uso de celular. Os estudantes teriam razão? O decorrer do ano revelará o que acontecerá com a lei que proíbe o uso dos dispositivos eletrônicos móveis nas escolas e se precisamos ouvir mais nossos estudantes.
Feliz volta às aulas!

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