No presente artigo, aproximo os destaques, não apresentados na parte 1, elencados pelo relatório trienal da OCEDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), publicado em janeiro, Trends Shaping Education – 2025, e a realidade educacional brasileira.
Na parte 1 das tendências educacionais para 2025, apresentei o primeiro destaque do relatório – conflito global. Agora, é a vez do segundo destaque – trabalho e progresso.
Considerando a realidade brasileira, a idade média de titulação de doutores é de 38 anos, enquanto em países considerados ricos da OCDE, a média é 35 anos. Assim, em uma tentativa de encurtar o tempo de pós-graduação, para que os alunos consigam ingressar mais cedo no mercado de trabalho, as três universidades estaduais paulistas (USP, Unicamp e Unesp) e as três federais do estado (Unifesp, UFSCar e UFABC) aprovaram em novembro de 2024 uma forma mais reduzida de cursar a pós-graduação, possibilitando ir para o doutorado a partir do primeiro ano do mestrado, ou seja economizando um ou dois anos na trajetória da pós. Importante salientar que não existe consenso para a proposta.
Salário de professor é outra questão que toca com força o segundo destaque, afinal podemos ter valorização da categoria e progresso educacional sem salários justos? O salário de professores da educação básica no Brasil passou por um reajuste de 6,27%, chegando a R$ 4.867,77 – piso salarial, que todos deveriam receber. A portaria foi assinada pelo ministro da Educação no final de janeiro, no entanto nem odos os municípios pagam o piso salarial para seus professores. Pode isso????
Uma outra situação problemática, considerando o segundo destaque, é o aumento de médicos formados sem o correspondente número de vagas em residências médicas. Ou melhor, nas duas últimas décadas aumentou o número de cursos de Medicina no país, mas o número de residências médicas continuou praticamente o mesmo. Com isso, o mercado de trabalho fica com muitos médicos generalistas, que tem como opção cursos de pós-graduação, que podem atribuir um certificado de especialista devido a carga horária do curso, mas que não corresponde à especialização de uma Sociedade Médica. É uma questão crítica que está sendo deixada “ao livre mercado” enquanto deveria ser gerenciada pelo Ministério da Saúde em parceria com o Ministério da Educação.
O terceiro destaque do relatório da OCDE é: vozes e narrativas. Existe uma polarização, populismo e desinformação que precisam ser combatidas com mais educação crítica, com ampliação de vozes diversas, propiciando equidade.
Aqui destaco as ações do Grupo Movimentos Docentes (MD), iniciado em 2010 na Universidade Federal de São Paulo e que ganhou proporções nacionais em 2020 e depois internacionais, quando foi criado o canal no youtube - Canal Movimentos Docentes e realizados os Congressos Internacionais Movimentos Docentes (CMD), em comemoração e pela valorização dos professores, sempre na semana do dia dos professores, em outubro. No canal do MD temos 3.200 vídeos, ou melhor, 3.200 vozes de professores, licenciandos e pós-graduandos. Semanalmente, são realizados programas online em que professores apresentam suas experiências e trocam ideias com os participantes. Essa semana estreou a terceira temporada do Programa Educação Básica em Ação, coordenado pela profa. Fernanda Sturion da Silva, que teve como convidada a profa. Ana Lúcia Camargo Meneghel, com mais de 700 visualizações.
No campo das narrativas, o CMD criou as “escredocências” – uma modalidade de escrita de trabalho, para que os professores expressem suas experiências e saberes - https://www.vveditora.com/eventos/978-65-6063-066-6
O último destaque é: corpos e mentes, valorizando a saúde mental. As instituições educacionais devem apoiar o bem-estar e a aprendizagem socioemocional, desde o berçário.
Sou professora desde 1985, mas apenas nos últimos cinco anos vivenciei situações de estudantes afastados por ansiedade, depressão e tentativa de suicídio. E vivenciei a triste situação de uma estudante que se suicidou. Na época, eu coordenava o Núcleo de Apoio ao Estudante (NAE) do campus Diadema da Unifesp. Assim que fui informada, corri para o hospital. A estudante estava com morte cerebral, ligada a aparelhos. Conversei com os familiares e alguns estudantes que já estavam chegando no hospital. Foi um momento muito duro de vivenciar. Na semana seguinte, o NAE organizou uma roda de conversa com os estudantes, uma psicóloga e um profissional especialista em saúde mental.
Na minha opinião, após a pandemia de Covid-19, houve um aumento da necessidade de cuidados com saúde mental e as instituições educacionais precisam se adaptar a isso.
De forma geral, considerando os quatro destaques do relatório da OCDE, a realidade educacional brasileira segue colada à mundial, com desvantagens em alguns quesitos, mas o quadro aponta para a continuidade do status quo, com transformações lentas. Em todo o caso, a educação continua sendo a ponte que leve a sociedade para o futuro – um futuro melhor. Eu continuo esperançando isso em 2025!

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