O Brasil sempre foi um país de grandes espetáculos. Do Carnaval ao futebol, da música às telenovelas, nossa cultura tem uma vocação natural para o grandioso. Mas, por muito tempo, essa grandiosidade existiu de forma local, celebrada entre nós, sem necessariamente ocupar um espaço central no cenário global. Agora, isso está mudando. Na coluna deste mês, vou analisar como alguns eventos de fevereiro refletem essa transformação midiática, desde o impacto de artistas brasileiros e internacionais até a consolidação do Brasil como um epicentro cultural global.
O Super Bowl sempre foi mais do que um evento esportivo — é um termômetro cultural, um reflexo da política e das tensões sociais do momento. No halftime show deste ano, KENDRICK LAMAR, um dos rappers mais influentes de sua geração, trouxe uma apresentação visualmente impactante e carregada de significado, reforçando a presença da música como forma de discurso. Ao lado de SZA, cantora e compositora de R&B conhecida por seu álbum CTRL, Lamar atravessou um setlist que referenciava tanto seu legado no hip-hop quanto a luta histórica da comunidade negra nos Estados Unidos.
No mesmo mês, o Brasil reafirmou seu papel como um epicentro de inovação na cultura pop ao sediar o lançamento da KINGS LEAGUE BRAZIL, liderada por GERARD PIQUÉ e KAKÁ. A KINGS LEAGUE BRAZIL é uma liga de futebol inovadora que mistura esporte, entretenimento e influência digital, reinventando o formato tradicional do futebol com regras dinâmicas e forte interação com o público. Criada pelo ex-jogador GERARD PIQUÉ, a liga já é um sucesso na Espanha e agora ganha sua versão brasileira, aproximando-o de um novo público através de transmissões em tempo real no YouTube e na Twitch - plataforma de streaming de jogos e entretenimento ao vivo. Com NEYMAR JR. como presidente de um dos times e influenciadores como LUVA DE PEDREIRO participando ativamente, a Kings League se torna mais um exemplo de como o Brasil está exportando formatos inovadores para o mundo.
Enquanto o Brasil se consolidava como palco para novas formas de entretenimento, o mundo do audiovisual reforçava uma tendência crescente. THE WHITE LOTUS é uma série de drama e sátira da HBO que acompanha hóspedes e funcionários de resorts de luxo ao redor do mundo, explorando temas de privilégio, poder e desigualdade social. Desde sua estreia, a série tem sido aclamada pela crítica e conquistado prêmios importantes, tornando-se um fenômeno cultural. a música dominando o cinema e a TV. A terceira temporada de THE WHITE LOTUS, ambientada na Tailândia, contou com a presença de LISA, rapper e dançarina do grupo de K-pop BLACKPINK, no elenco, um claro movimento da indústria para atrair a audiência global dos artistas musicais para o mundo do streaming. Lisa é apenas um exemplo de um fenômeno maior: cada vez mais, os músicos são as verdadeiras estrelas do entretenimento. Sua atuação na série foi bem recebida, com críticos destacando sua presença natural em cena e a forma como sua participação ajudou a expandir a audiência da produção. Curiosamente, o lançamento da terceira temporada coincide com o anúncio de seu primeiro álbum solo, ALTER EGO, previsto para o final de fevereiro, reforçando como Lisa e suas colegas do BLACKPINK continuam elevando a arte da performance midiática ao equilibrar carreiras musicais e cinematográficas com grande dedicação.
Os lançamentos musicais do mês também evidenciaram essa tendência. TATE MCRAE, cantora e dançarina canadense que despontou no pop nos últimos anos, vem sendo apontada como a próxima grande popstar da indústria. Tate McRae, apontada como a próxima grande popstar da indústria, lançou seu novo álbum, SO CLOSE TO WHAT, com projeção de ser seu primeiro #1 na Billboard 200, principal parada de álbuns dos Estados Unidos. Também nesse mês, Lady Gaga lançou o clipe de “Abracadabra”, single de seu aguardado álbum MAYHEM, previsto para março. A música rapidamente alcançou o top 10 das paradas nos Estados Unidos após sua estreia no Grammy Awards de 2025. No Spotify, “Abracadabra” registrou 4,92 milhões de streams no dia do lançamento, marcando o maior debut solo da artista na plataforma. Além disso, a faixa estreou no número seis no UK Singles Chart, tornando-se a 17ª canção de Gaga a entrar no top 10 no Reino Unido.
Mas enquanto grandes estrelas dominam o mercado global, também precisamos olhar para os artistas independentes que buscam se reinventar no cenário musical brasileiro. DAVI CÍNTORI, um cantor e compositor independente, apagou todo o seu Instagram para dar início a uma nova era. Depois do lançamento do seu álbum AMEFÛ - AMOR E FÚRIA, ele emocionou a internet ao compartilhar as dificuldades de ser um artista independente, vivendo entre lavar pratos para ajudar sua família e manter seus sonhos vivos. Sua sinceridade foi recebida com enorme carinho online, mostrando que, mesmo longe do mainstream, há espaço para histórias autênticas ressoarem. Em sua música ‘Carta de Despedida (Prelúdio)’, Davi canta: ‘Beija-me, antes de eu te perder / Me faz lembrar porque eu te mantive aqui.’ O verso, que fala sobre amor e despedida, também pode ser lido como um retrato da relação entre um artista e sua arte—uma luta constante entre seguir em frente ou desistir. Em um cenário dominado por grandes estrelas, histórias como a de Davi nos lembram que a verdadeira essência da música está na paixão de quem ousa sonhar, mesmo sem garantias. Em um momento em que a música se consolida como a grande força do entretenimento global, sua jornada nos lembra da resiliência necessária para continuar sonhando, mesmo quando os caminhos parecem impossíveis.
Fevereiro também foi marcado por uma grande perda para a música brasileira. O falecimento de BOSS IN DRAMA, DJ e produtora que influenciou profundamente a cena eletrônica nacional, trouxe à tona reflexões sobre a importância de valorizar os artistas que moldam o som de uma geração. De acordo com o portal Terra, Boss in Drama foi pioneira no pop eletrônico brasileiro e deixou sua marca com um estilo vibrante e sofisticado, colaborando com nomes como Karol Conká e Manu Gavassi.
Além de seu impacto musical, sua trajetória também representava resistência e inovação dentro da indústria. Como uma mulher trans, Boss in Drama desafiou barreiras e conquistou seu espaço em um cenário muitas vezes hostil para artistas LGBTQIA+. Sua presença na música eletrônica brasileira não apenas abriu caminhos para novos talentos, mas também reforçou a importância da representatividade dentro do meio artístico. Sua música continua a reverberar, e seu legado serve como um lembrete da importância de apoiar e celebrar os talentos nacionais que fazem da cena brasileira um espaço dinâmico e influente no cenário global.
O Brasil não é apenas um espectador da cultura pop global — ele é parte ativa desse movimento. O país se tornou um destino para megashows como o de LADY GAGA que vem para Copacabana em maio, uma plataforma para formatos inovadores como a KINGS LEAGUE BRAZIL, e um celeiro de artistas que transitam entre o local e o global.
Mas tão importante quanto celebrar o Brasil como palco mundial, é olhar para os talentos que nascem aqui. Enquanto estrelas da música internacional dominam o entretenimento, artistas independentes como DAVI CÍNTORI lutam para fazer sua arte existir, provando que a verdadeira essência da música não está no espetáculo grandioso, mas na conexão sincera entre artista e público.
O Brasil ocupa um lugar central nesse movimento, não apenas como cenário para grandes eventos, mas como protagonista de sua própria narrativa cultural. E se há algo que fevereiro nos mostrou, é que estamos apenas começando a ver a dimensão desse espetáculo. Da música ao futebol, do digital ao analógico, o país está vivendo um momento de ascensão cultural como nunca antes. Não somos apenas espectadores, o Brasil está no centro do palco. Quem vai assistir ao Oscar esse fim de semana?!

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