Escola Móvel
- Profa. Dra. Marilena Rosalen
- 22 de mar.
- 3 min de leitura
Atualizado: 5 de abr.
No último dia 15 de março, dia da escola, escolhido pelo Congresso Nacional tendo como referência a primeira escola fundada no país, em Salvador, em 1549, tive o privilégio de participar da formatura de ensino médio da Escola Móvel. A Escola Móvel se iniciou em 2.000, com aprovação do MEC, junto ao Grupo de Apoio à Criança e ao Adolescente com Câncer (GRAACC), ao Instituto de Oncologia Pediátrica (IOP) e à Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). A Escola Móvel presta atendimento escolar hospitalar com o objetivo de garantir à criança e ao adolescente em tratamento de câncer, que geralmente se afasta de suas atividades normais, a continuidade de seus estudos.
Na Escola Móvel, os professores das diferentes áreas – Ciências da Natureza, Ciências Humanas, Linguagens, Matemática e Pedagogia – vão ao encontro dos alunos/pacientes para atendê-los individualmente, independente do local em que estejam – sala de espera, internação/ quarto, UTI, quimioterapia, brinquedoteca, sempre respeitando os protocolos específicos necessários para que a aula ocorra. A coordenação da Escola Móvel faz contato com a escola regular em que o aluno/paciente está matriculado e o conteúdo desenvolvido é planejado a partir do currículo escolar de cada um. Posteriormente, as atividades realizadas são enviadas para a escola regular juntamente com relatórios pedagógicos que são utilizados para atribuição de nota ao aluno/paciente.
Explicado o que é Escola Móvel, voltamos à formatura. Fui convidada por um de seus professores – Jailson Alves da Silva, que foi escolhido como paraninfo pela turma de 12 formandos. Tive o privilégio de orientar o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e a dissertação de mestrado do Jailson, com temas relacionados ao seu trabalho. Não posso deixar de registrar que enquanto ou via suas emocionantes palavras de paraninfo, muito bem escritas, me lembrei de dona Margarida, mãe de Jailson, que faleceu de câncer, no início da graduação dele. Que resiliência! Que exemplo de amor ao próximo e de profissional!
A formatura foi em uma biblioteca pública próxima ao GRAACC. Anfiteatro lotado. Desde as primeiras palavras da mestre de cerimônias, o tom foi de emoção. As falas destacaram o trabalho coletivo e colaborativo de uma grande equipe para viabilizar a Escola Móvel. Nas entrelinhas, pode-se entender dificuldade financeira para mantê-la, também, o que é um absurdo na minha opinião – um trabalho como esse, precisar de patrocínio privado para sobreviver, enquanto o Legislativo faz o quer com as emendas parlamentares... Mas a manhã do dia 15/03 era de celebração pela vida e teve a participação especial do Quarteto de Música da Escola de Música Baccarelli.
Dentre as falas, destaco uma frase mencionada pela Dra. Mônica Cypriano, diretora médica assistencial e coordenadora da Clínica Fora de Tratamento do GRAACC: “A cura não é suficiente”, salientando o desejo de que os pacientes tenham futuro, tenham sonhos – é a humanização hospitalar e escolar. Futuro e sonhos foram palavras-chaves na formatura de 12 adolescentes que no passado tiveram sentenças de morte.
O jornalista Carlos Tramontina, padrinho dos formandos, fez uma fala embargada em lágrimas, dizendo que entrevistou muita gente importante, como presidentes de nações, mas nada foi como aquela manhã de formatura da Escola Móvel. Ele enfatizou que é filho de professores e ressaltou o trabalho desenvolvido por eles. Incentivou os alunos/pacientes a darem um passo de cada vez e seguirem em frente sempre.
A oradora da turma, Giovana, agradeceu a Deus pela vida, agradeceu aos professores, aos familiares e a todos do hospital. Apenas gratidão nas palavras de uma adolescente que passou por tratamento de câncer e está se formando no ensino médio. Não é incrível?
O aluno/paciente Pablo, fez o agradecimento aos professores. Subiu ao palco com dificuldade devido a baixa visão, mas nenhuma dificuldade era vista como “coisa feia”, e sim como um desafio sendo superado. Ele disse que teve o diagnóstico de câncer com 8 anos, ou seja, quando estava sendo alfabetizado, aproximadamente 10 anos atrás, e completou: “Tudo o que aprendi, foi aqui”. Daí, falou que seu sonho era agradecer aos professores por isso. Achei lindo! Para mim, foi o ponto alto da cerimônia. Já estive em muitas formaturas, mas nunca tinha visto um agradecimento tão sincero. Em tempos que professores são pouco valorizados, um reconhecimento desse vale milhões.
Antes de encerrar, um vídeo mostrou cada aluno/paciente dizendo o que sonha/deseja para o futuro. Um deles acabou de iniciar o curso de Nutrição. A vida continua e existe futuro para todos que estavam naquela cerimônia de formatura.
Vida longa à Escola Móvel! (Fotos da formatura da Escola Móvel podem ser vistas em: https://flic.kr/s/aHBqjC5T2i )
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