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Carnaval possível na escolas

Foto do escritor: Profa. Dra. Marilena RosalenProfa. Dra. Marilena Rosalen

Às vésperas do Carnaval, em uma viagem pela Europa, tive a oportunidade de apreciar crianças, de uma escola suíça, vestidas com fantasias produzidas com material reciclável, dançando ao som de uma banda marcial, jogando alguns confetes, rindo e se divertindo muito, inclusive algumas crianças cadeirantes.





Essas imagens me fizeram refletir no potencial pedagógico do Carnaval, que oficialmente terminou na última terça-feira e hoje ainda acontece o desfile das campeãs em São Paulo e no Rio de Janeiro. Sendo uma celebração que se estende por vários dias e marca profundamente o cotidiano, é natural que acabe entrando nas escolas, ainda que de maneira indireta. E por que não transformar essa presença em aprendizado? Projetos inter e multidisciplinares podem utilizar o Carnaval para conectar diferentes áreas do conhecimento, promovendo habilidades e competências essenciais, além de envolver famílias na culminância das atividades.


Nessa linha, na Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental é POSSÍVEL utilizar o tema Carnaval para: estimular a criatividade e o potencial artístico das crianças na confecção de máscaras, fantasias e enfeites, principalmente com a utilização de materiais recicláveis ou de baixo custo; propiciar o desenvolvimento de habilidades motoras com as danças e músicas - utilização de instrumentos musicais construídos pelas crianças; propor trabalho em pequenos grupos, que favorecem a cooperação e o diálogo; organizar uma FESTA/apresentação/exposição das produções sobre o Carnaval para que os familiares/responsáveis possam se alegrar junto com as crianças. Aqui, trago as palavras de um amigo, doutor em Educação, diretor do Centro de Estudos Júlio Verne, em Diadema/SP, um exemplo de escola, na minha opinião:

...proponho uma metodologia de ensino que o motivo festivo seja a tônica de todo aprendizado. Não pense aqueles que ridicularizam a festa, que festa acontece sem dedicação e trabalho. Pelo contrário, para haver festa, tem que haver trabalho... (Alexandre Medeiros, 2020, p. 17).

Ele diz isso baseado em Josef Pieper, filósofo alemão, uma das bases teóricas da metodologia adotada e praticada pela escola e foi um pouco do que presenciei com as crianças da escola suíça.


Nas séries finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, pode-se abordar a origem e história do Carnaval, datada desde a Antiguidade, comemorado em diferentes países e que apesar de ser uma festa secular está relacionada à Igreja Católica, pois acontece antes da Quaresma - período de 40 dias que antecede a Páscoa Cristã. Assim, é POSSÍVEL: propor a realização de pesquisa em pequenos grupos sobre a origem do Carnaval ou a história do Carnaval no Brasil ou criar questionamentos que direcionem a pesquisa, como:


  1. Qual foi o primeiro bloco de Carnaval criado no Brasil e quem foi um de seus criadores? Foi o Bloco das Sumidades Carnavalescas, criado em 1855, no Rio de Janeiro e um de seus criadores foi o escritor José de Alencar, autor de O Guarani e Iracema. Quando eu estava na escola e li estes livros, pensava que José de Alencar só escrevia na vida... Me enganei. Ele gostava de Carnaval.


  2. Que artista pintou diversas telas sobre Carnaval? Cândido Portinari. Um exemplo é “Carnaval”, 1960. (foto - https://www.portinari.org.br/acervo/obras/17811/carnaval )



    Foto: https://www.portinari.org.br/acervo/obras/17811/carnaval

  3. É possível realizar atividades de interpretação visual e releitura artística, estudo do Modernismo Brasileiro e crítica social contida nas pinturas. Aliás, vale a pena visitar o Museu Casa de Portinari, em Brodowsky, perto de Ribeirão Preto/SP.


  4. Que escritor tem uma coletânea chamada Carnaval? Manuel Bandeira. Inclusive, no livro “Carnaval” publicado em 1919, tem o poema chamado “Os Sapos”, que foi ícone na Semana de Arte Moderna de 1922, pois ele brincou com a sonoridade e métrica regular. A seguir, um pequeno trecho:


O meu verso é bom

Frumento sem joio.

Faço rimas com

Consoantes de apoio.

Vai por cinquenta anos

Que lhes dei a norma:

Reduzi sem danos

A fôrmas a forma.

Clame a saparia

Em críticas céticas:

Não há mais poesia,

Mas há artes poéticas...

(...)

Que soluças tu,

Transido de frio,

Sapo-cururu

Da beira do rio...


José de Alencar, Cândido Portinari e Manuel Bandeira aparecem no ENEM e nos vestibulares e é possível desenvolvê-los a partir do tema Carnaval nas escolas.


Dando continuidade, é POSSÍVEL: realizar sessão de cinema com filmes que tratam sobre a evolução do Carnaval no Brasil; propor a produção de um vídeo/documentário sobre o Carnaval local; desenvolver temas de segurança e saúde, como uso abusivo de álcool e drogas, assédio sexual e prevenção de acidentes de trânsito, incentivando os estudantes a divulgarem suas produções em redes sociais; propor a escrita de textos de diferentes gêneros; propor a realização de produções artísticas visuais e musicais. As produções podem ser incorporadas em livros de turma ou expostas em redes sociais das escolas. Também, pode ser organizada uma festa/exposição como encerramento.


Concluindo, o Carnaval é mais que uma simples data comemorativa. Ele é um patrimônio cultural e uma celebração histórica, e é POSSÍVEL ser explorado de forma inter e multidisciplinar nas escolas, propiciando constituição de conhecimentos, novas habilidades e competências, valorização da diversidade cultural e inclusão social. E se tudo isso estiver envolto em alegria e festa, o conhecimento será ainda mais inesquecível!


Leitura complementar: “Metodologia para uma educação humanista e

humanitária: caminhos possíveis”, capítulo de Alexandre Medeiros, p. 15 – livro Movimentos Docentes: Experiências, vivências e histórias, de Marilena Rosalen (Org.), 2020. Disponível em: https://www.vveditora.com/educacao/978-65-88471-02-9




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